domingo, 6 de julho de 2008

A produtividade nacional ou a falta dela

De cada vez que ouço discutir o “estado da nação” ou o estado da nossa economia e suas perspectivas próximas e futuras é certo e seguro, que um ataque de urticária me atinge.
Todos os fazedores de opinião (os célebres opinon makers), analistas económicos, comentadores de toda a sorte e todos os nossos grandiloquentes e fantásticos políticos, que vivem, na sua maioria, num País diverso do meu, atiram para cima da mesa, como causa de todas, ou maior de todas as causas para a falta de crescimento e convergência, a par da justificação para os baixos salários, o tema redundante da nossa falta de produtividade.

E fazem-no deixando sempre nas entrelinhas ou mesmo nas linhas que a culpa é do baixo nível de instrução dos trabalhadores, da sua falta de hábitos de trabalho e de disciplina, etc. e, mais recentemente, da baixa qualificação.
Resumindo, todos os males da nossa economia são provenientes dos trabalhadores, madraços incorrigíveis que vivem dos subsídios fraudulentos de doença, do desemprego, etc.
Em resumo:
Toda a culpa dos males da nossa economia assenta e recai sobre as espáduas, já esqueléticas, dos trabalhadores, pensionistas e reformados que pouco ou já nada produzem, mas que exigem sempre mais e mais.
Concedendo que a formação é urgente, necessária e desejável, aqui afirmo, alto e bom som, e na primeira pessoa, que não são acções como As Novas Oportunidades, ou a formação obrigatária pelo Código de Trabalho, que resolverão o problema, como poderei demonstrar se houver nisso interessados.
Esquecem esses doutos, ilustrados, ilustríssimos e grandiloquentes Senhores algumas coisas muito primárias, tão simples que até uma criança de 10 anos será capaz de entender.

1º - o trabalhador Português na diáspora é, sempre foi e continua a ser, um trabalhador apreciado e tido em alta conta, justamente pelos seus hábitos de dedicação e apego ao trabalho e à elevada produtividade.

2ª – é difícil, muito difícil, esperar que um trabalhador que trabalha com o estômago a roncar fome, que vai trabalhar sem saber como alimentar a família, pagar a renda de casa ou a prestação ao banco, pagar os transportes e as amas ou infantários para os poucos que os conseguem, que têm de se levantar de madrugada ou muitas horas antes do seu início de período de trabalho, para percorrer um calvário longo, lento e caro percurso em transportes públicos para conseguirem chegar a horas do ponto, depois de muitos deles já terem feito escala em creches, amas ou casa de familiares (os que podem) para entregar os filhos, que trabalha acicatado pelo azorrague da ameaça de despedimento, da delação, do medo, possa dar um sedimento ajustado ás necessidades da empresa ou da ganância desumana do empregador.

Disto isto bom seria que tão clarividentes e especializadíssimos senhores se questionassem antes sobre as verdadeiras razões de uma eventual baixa produtividade, só aqui ou além, porque nas grandes organizações da distribuição alimentar, banca, seguros, telecomunicações, entre outras a exploração à qual o trabalhador se submete, cerrando os dentes na revolta, toma características de trabalho quase escravo.

Esquecem, escondem e calam o conhecimento, ou não ingénuo desconhecimento, do destino dado a incontáveis milhões provenientes da CEE e destinados à modernização do tecido empresarial.

Ele foram carros de gamas e preços nunca antes por cá, tão descaradamente e em tão grande número exibido, foram os palacetes, tipo “maison” ou outro, foram os iates, os aviões para executivos, as contas na Suíça e em offshore, as jóias para as legítimas e para as amantes, os investimentos, muitas vezes de gosto duvidoso, naquilo que lhe sopravam ao ouvido ser arte boa para render num futuro, os investimentos, bastas vezes de alto risco, na banca.

Enfim, um verdadeiro fartar vilanagem que deixou em roda livre e a afundarem em dívidas as empresas que supostamente deveriam ser as beneficiárias de tais apoios.

No meio de tudo isto, que varreu toda a economia do sector primário ao secundário, empresários sérios, honestos, verdadeiramente padrões e marcos de probidez e esforço, fizeram vingar as suas empresas, e afirmá-las nacional e internacionalmente.

Uma minoria por isso mesmo digna de apreço, encómios e admiração.

Não, sobre isso não falam.

Não convém acicatar os ânimos, quiçá virulentos, de tão portentosos Senhores.

Também não falam da falta de creches, de ATL’s, de Jardins Infantis, com preços que possam estar ao alcance de quem usufrui de um salário mínimo e SOBRETUDO que funcionem dentro dos horários que verdadeiramente são necessários.

Se não se pode esperar que a iniciativa privada os abra e mantenha, especialmente com horários contínuos, de molde a permitir a todos os que trabalhem em horas menos convencionais a elas possam aceder, como seu direito, já se pode exigir ao Estado que o faça.

O recente anúncio, feito por Sexa. o Iluminado, preclaro e omnisciente Sr. Primeiro-ministro do lançamento de concurso para a construção de não me lembro já quantas infra-estruturas do género não me acalma.

O preço, a localização e mais do que tudo o horário de funcionamento são verdadeiramente fundamentais.

Empresas há que há muito se deram conta da necessidade de proporcionarem aos seus trabalhadores esses apoios, tal é o caso da TAP cujo infantário trabalha 24/24.

Outras empresas seguiam o mesmo exemplo mas não tenho dados actualizados sobre essas realidades e, por isso, não as destaco aqui.

Por aqui me fico.
Saudações a todos(as)
A Nau Catrineta

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