domingo, 6 de julho de 2008

Política, divórcio entre os cidadãos e políticos

“Feios, Porcos e Maus”

Poema de “José Miguel Silva”
Do livro “Movimento no Escuro”
Publicado por “Relógio d’Água”


Compram aos catorze primeira gravata
com as cores do partido que melhor os ilude.


Aos quinze fazem por dar nas vistas no congresso
da jota, seguem a caravana das bases, aclamam
ou apupam pelo cenho as chefias, experimentam
o bailinho das federações de estudantes.


Sempre voluntariosos, a postos sempre,
para as tarefas de limpeza após o combate.


São os chamados anos de formação.
Aí aprendem a compor o gesto, a interpretar humores,
a mentir honestamente, aí aprendem a leveza
das palavras, a escolher o vinho, a espumar
de sorriso nos dentes, o sim e o não mais oportunos.


Aos vinte já conhecem
pelo faro o carisma de uns,

a menos valia de outros,
enquanto prosseguem vagos estudosde
Direito ou de Economia.

Começam, depois isso, a fazer valer o cartão de sócio:
estão à vista s primeiros cargos,
há trabalho de sapa pela frente,
é preciso minar, desminar, intrigar.

Reunir.
Só os piores conseguem ultrapassar esta fase.

Há então quem vá pelos municípios,

quem prefira s organismos públicos
– tudo depende do golpe
de vista ou dos patrocínios que se tem ou não.


Aos trinta e dois é bem o momento de começar
a integrar as listas, de preferência em lugar legível,

pondo sempre a baixeza acima de tudo.

A partir do Parlamento, tudo pode acontecer:
director de empresa municipal, coordenador de,
assessor de ministro, ministro, comissário ou
director-executivo, embaixador na Provença,
presidente da Caixa, da PT, da PQP e, mais à frente
jubileu e corolário de solvente carreira),
o golden-share de uma cadeira ao pôr do sol.


No final, para os mais obstinados, pode haver
nome de rua (com ou sem estátua) e flores
de panegírico, bombardas, fanfarras de formol.





recebido de meu primo: Mário Vasconcelos

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