Essa entidade invisível, hidra de milhares de cabeças, a que se chama “mercado” domina, hoje como desde o primórdio dos tempos, quando o homem começou a trocar bens que produzia, ou tinha em excesso, por outros bens de que necessitava e que outros clãs, tribos ou grupos dispunham.
Esta foi a primeira organização de mercado que regulou a vida das sociedades até ao aparecimento da moeda.
Aí a vida da sociedade mudou e a troca directa foi desaparecendo, embora subsista ainda hoje em locais remotos, e a aquisição de bens necessários pressupunha a venda, primeiro, de bens para realizar capital com que se comprava então aquilo de que se necessitava.
A grande diversidade de moedas que aluíam aos grandes centros comerciais, principalmente na Europa levou ao aparecimento dos cambistas e dos banqueiros com os quais, a partir do século XIII e XIV se pode considerar ter sido iniciada, de forma embrionária embora, que a burguesia desse início à construção do sistema capitalista baseado na geração e acumulação do lucro.
O sistema conheceu um enorme impulso no séc. XVIII com a revolução industrial em Inglaterra que permitiu um súbito aumento de riqueza pelos industriais na época e, logo a partir daqui, não só o artesão se viu incapaz de concorrer com o produto fabril, como o operário se viu, de repente, sem trabalho e, os que conseguiam trabalho na fábrica, tinham de se sujeitar a pagas miseráveis e a jornadas de trabalho inumanas.
Contudo foi só no século XX que se estabeleceu, firmou e afirmou, definitivamente o grande “mercado” caracterizado pelo aparecimento de grandes empresas, industriais, comerciais e financeiras que são verdadeiras “donas” do comércio e fianças mundiais.
Alguns dos gigantescos conglomerados quer financeiros quer industriais, têm orçamentos superiores aos de muitos países, e tem um poderio verdadeiramente incalculável que não tem escrúpulos em utilizar de qualquer forma que sirva os seus interesses.
É nesta situação que nos encontramos quando a falência de um gigantesco banco Americano provocou ondas de choque por todo o mundo com reflexos ainda não totalmente apercebidos nas economias mundiais.
Justamente no país que é o expoente máximo do capitalismo mais puro, mais selvagem, menos regulamentado do ocidente, foi ao estado que coube a função de salvar algumas instituições bancárias e uma seguradora, para evitar um completo descalabro nacional e internacional.
Os fazedores de opinião, economistas, “financistas”, mais todos os istas, sem faltarem todos os políticos de quase todas as cores continuam a fazer “profissão de fé” neste sistema capitalista selvagem, liberal e, para eles, está tudo bem, o sacrossanto mercado tem potencialidades para se regenerar e ultrapassar a crise.
Isto é, as instituições em risco depois de terem sido salvas pelo dinheiro do contribuinte, que pagou igualmente aos gestores de topo dessas casas, prémios de mérito de gestão de milhões e milhões de dólares para as levarem afinal à ruína, poderão recomeçar as suas práticas anteriores, ainda que de uma forma mais controlada, i.e., controlando nações, dominando o mundo.
Entre nós, aparentemente, digo aparentemente porque continuam os inquéritos, averiguações etc., também uma poderosa instituição bancária, andou a jogar com o dinheiro dos seus depositantes, quer perdoando dívidas de familiares e amigos, quer envolvendo-se em nebulosas operações financeiras para compra de capital próprio, influenciando os preços das suas acções (boas?) na bolsa.
A falência dos sistemas socialistas, cedo verificada na ex União Soviética, não permite fazer comparações senão entre estes dois sistemas: o capitalista liberal e selvagem, e o falido sistema socialista soviético, deixando de parte a China que é um modelo distinto, embora tão centralista como o soviético.
A meu ver este paradigma de desenvolvimento e de sociedade terá de evoluir para alguma outra coisa, algo de melhor até que, por sua vez, tenha também ele de ser renovado.
Na verdade não é aceitável que os interesses de alguns milhares ou dezenas de milhares, mesmo centenas de milhares de privilegiados, detentores de capital, possam continuar de forma desbragada e despudorada a “engordar” sobre a miséria de milhões de trabalhadores, muitos dos quais são, eles próprios, a remeter para essa condição.
O facto de algumas, muitas, instituições e empresas fundarem as suas fundações e fundaçõeszinhas de carácter sócio-caritativo, não altera em nada o que disse.
É todo um modelo organizativo, todo um paradigma que está em causa.
Saudações a todo(a)s
Nau Catrineta
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Há 5 anos
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